domingo, 28 de setembro de 2008

Mas, afinal, o que é o cinema?

"O cinema não deveria entrar no museu nem integrar instalações. O museu, como o teatro, é a sociedade burguesa. O cinema é uma arte popular, ele exige a sala escura, na qual podemos nos esconder num canto, onde estamos protegidos pela escuridão, onde não há entreato, nem coquetel, nem casacos de pele nem olhares - salvo aqueles que circulam entre a tela e os espectadores.

E, quando o filme termina, e as luzes ainda não estão acesas, nós nos levantamos e vamos embora."


Eugenio Renzi

Triste Fim de Policarpo Quaresma: O Brasil de ontem, hoje e (provavelmente) sempre


Triste Fim de Policarpo Quaresma é daquelas obras que transcendem o período em que foram escritas. Podemos até considerá-la datada pelos costumes da época em que a narrativa ocorre (fim do século XIX), mas uma coisa não se pode negar: é a parábola definitiva da política brasileira, seja em qual período da História estivermos.

Lima Barreto constrói uma obra extremamente ácida, que não poupa as idiossincrasias da vida. Mas a base está na crítica à política e aos órgãos que governam o país. Usando um estilo de denúncia social semelhante ao de Machado de Assis, o livro de Barreto, escrito em 1911, consegue ser irônico e profundamente reflexivo, sem nunca apelar para velhos clichês.

Policarpo Quaresma é um homem que sonha ver sua pátria livre de estrangeirismos, cultivando seus próprios valores, dando valor a seu próprio povo; para ele, o Brasil é o país mais rico do mundo, seja pela vasta cultura ou pela terra abençoada para a agricultura. O protagonista é uma espécie de metáfora que representa a eterna luta do brasileiro para se livrar das amarras impostas ao seu país durante séculos de História; esse mesmo brasileiro que, como disse Nelson Rodrigues décadas mais tarde, sempre sofreu da “síndrome do vira-lata”. Aqui, vemos como Lima Barreto se antecipa à estética modernista da valorização cultural do Brasil cerca de uma década antes do movimento atingir seu auge (Semana de Arte Moderna, em 1922).

A idéia de patriotismo defendida por Policarpo é a de cultivar amor pela nação como se esta fosse um ser palpável. Assim, seria possível estudar as qualidades de seu país para apontar a forma mais viável de progresso. O que o personagem propõe difere muito do pensamento de patriota que o mundo tem atualmente: pessoas prontas para morrer pelo país, impondo sua cultura a outros, como forma de defesa contra possíveis “violadores” da moral de uma nação (vide a política norte-americana nos últimos anos).

A crítica dos valores da sociedade da época está presente em quase todas as páginas do livro. O racismo latente de uma república que aboliu há pouco tempo a escravidão; a aversão aos pobres por membros da alta classe (composta esta por cargos ou funções reconhecidas como “nobres”: médicos, tenentes, funcionários públicos...); o individualismo que levava as pessoas a pensar somente no próprio sucesso, não se importando com os outros; enfim está tudo lá. Agora façamos um momento de reflexão: a sociedade do fim do séc.XIX não sofreu grandes alterações mais de um século depois. Vários fatores criticados por Barreto ainda continuam arraigados na forma brasileira de levar a vida. O funcionarismo público continua burocrata e lento; as facilidades são encontradas apenas por aqueles que mantém o status de seu cargo, sejam políticos, militares ou apenas famosos; os verdadeiros trabalhadores do país ainda são tratados com descaso pelos governantes. Lima Barreto sentiria vergonha ao ver o quanto deixamos de evoluir em mais de cem anos.

Ainda há espaço para satirizar aqueles que buscam casamentos em troca de uma posição melhor na sociedade (qualquer semelhança com a atualidade é mera coincidência...), e o “militarismo de gabinete”, mas a obra trata mesmo é de política, traçando um quadro perfeito do que parece ser o estado constante da política brasileira.

A construção da imagem, que transforma os governantes em heróis, semideuses idolatrados pelo povo, já existia na época. O que vemos hoje, ainda mais em época de eleições, com políticos prometendo tudo o que a população quer ouvir, é recorrente na história do Brasil. A luta para chegar ao governo é ferrenha, mas parece que o amor empregado pelos homens que decidem os rumos do país não é pelo trabalho da administração em si, mas sim pelo poder que a eles são conferidos. A partir desta prerrogativa, Barreto traça um perfil impiedoso de Floriano Peixoto, presidente à época. Preguiçoso e vulgar, tirano e indolente, o marechal fora desenhado como a imagem histórica do “bom” governante.

A desilusão da população com os políticos já vêm daquela época. Policarpo, que usa todos seus esforços para ajudar a República, vê que nada adianta suar, trabalhar, ou morrer pela pátria. E é esta a sensação que paira sobre o país até hoje (principalmente hoje). A cada novo escândalo, a cada nova CPI instaurada e a cada final de processo sem que os culpados sejam punidos, nos perguntamos: de novo? Até quando o país ficará à mercê destes tipos que vêm no comando da nação há tanto tempo? Quaresma fez esta pergunta há um século e ainda não obteve resposta.

O final amargo e pessimista contrasta com o último parágrafo, onde a afilhada de Policarpo confere as inúmeras mudanças que ocorreram no país desde os seus primórdios, mostrando que o progresso não é mera utopia e que dias melhores virão. Afinal, mudanças são inerentes no processo de desenvolvimento de uma nação. Nós, brasileiros, ainda esperamos esta mudança maior.

domingo, 14 de setembro de 2008

Exclusivo!! Resenha da Controvérsia!! (hahaha)



Atenção!!

Tenho em primeira mão a resenha que sairá na Controvérsia de outubro (hahaha).
Aproveitem...

Existem filmes que marcam e mudam um gênero. Wall-E (EUA, 2008) não representa apenas um novo rumo na estética das animações, mas também mostra que obras “feitas para crianças” podem encantar e emocionar como poucas “feitas para adultos” conseguem.

A Pixar, extensão da Disney para a produção de longas animados, mostra que é o estúdio que mais ama o que faz. Toy Story, Monstros S.A., Procurando Nemo e outros estão aí para comprovar. Wall-E, entretanto, é um passo além de todo o sucesso e crítica alcançado pelos filmes anteriores da produtora. É um triunfo cinematográfico, uma experiência fílmica única. Méritos totais para o diretor Andrew Stanton.

A história é uma crítica aberta a toda megalomania humana. Estamos em 2100 aproximadamente. A Terra se tornou inabitável graças a todo o lixo acumulado por décadas a fio. Como a vida no planeta se tornou impossível, os seres humanos partiram para uma viagem de cinco anos pelo espaço em naves-colônias gigantescas, deixando milhões de robôs com a missão de limpar o planeta. Após 700 anos, o lixo ainda está todo lá, e apenas um robô continua fazendo seu trabalho: o enferrujado Wall-E.

O personagem-título é um capítulo à parte. Wall-E tem como única companhia uma barata de estimação. É devotado fiel de seu trabalho, mesmo com montanhas descomunais de lixo para compactar; mora em um caminhão-baú onde coleciona inúmeros apetrechos e bugigangas humanas que encontra durante sua jornada de trabalho (lâmpadas, garfos, isqueiros) e sempre assiste, quando chega em casa, uma velha fita VHS do musical Alô, Dolly! (filme de 1969).

A apresentação da história ao público é um dos acertos estéticos mais criativos e engenhosos do cinema nos últimos tempos: a primeira metade do filme não apresenta diálogos. E é aqui que a construção do personagem mostra-se impecável. Wall-E é um palhaço mudo, como Buster Keaton ou Charles Chaplin. Ele não precisa de palavras (aliás, o único som que emite é o próprio nome) para cativar o público. A forma metódica que leva a vida (compactar lixo-casa) faz com que o pequeno robô, de alguma forma, crie um sentimento de solidão, de vazio não preenchido.

Sua vida sofre uma reviravolta quando Eva (note a óbvia referência bíblica), uma robô-sonda que busca encontrar vestígios de vida em desenvolvimento, desembarca no planeta. Tem-se início, após uma acidental descoberta do protagonista, uma aventura romântica entre os dois pequenos robôs para que a vida se torne viável mais uma vez na Terra.

Liderados por Roger Deakins, um dos fotógrafos mais respeitados do cinema americano, a equipe de animação constrói um visual impressionante, com dois ambientes diferentes ao longo do filme, ambos extremamente verossímeis. Primeiro, o planeta devastado pelo lixo é mostrado em tons de terra e ferrugem, dando a impressão sufocante de desolação necessária. Depois, dentro da nave-colônia, têm-se um ambiente limpo e iluminado.

Stanton ousou e acertou. Fez uma crítica feroz à displicência humana com a própria vida e com o planeta e não teve medo de nos mostrar através de caricaturas (todos os que vivem nas naves-colônias são obesos mórbidos e não fazem absolutamente nada sem que robôs os ajudem). E, o mais genial, mostrou dois já célebres personagens, mais humanos do que os próprios seres humanos. Wall-E nos mostra que, apesar de tudo, ainda é possível acreditar na vida e no amor.

sábado, 13 de setembro de 2008

Pois louco é quem me diz...

Para estrear o blog, postarei uma frase que, apesar de ser extremamente irônica, mostra a realidade do mundo...


"Todo homem sensato aceita o mundo como ele é. Só os loucos tentam reformar o mundo. Portanto, todo progresso depende dos loucos."

George Bernard Shaw, escritor irlandês